sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Repasses do Programa Segundo Tempo a ONGs são inflados em ano eleitoral

Levantamento mostra que número de entidades que têm convênios com Ministério do Esporte e verbas cresceram em 2008 e 2010

24 de fevereiro de 2011 | 23h 00
Eduardo Bresciani, do estadão.com.br

BRASÍLIA - O Ministério do Esporte dobrou o montante de recursos do programa Segundo Tempo repassado a entidades e organizações não governamentais em 2010, ano de eleições. Reportagens do Estado publicadas desde domingo têm mostrado a destinação de recursos do programa para entidades vinculadas ao PC do B, partido do ministro Orlando Silva, e irregularidades na sua aplicação.

Levantamento feito pela assessoria técnica do DEM no Sistema de Administração Financeira (Siafi), a pedido do Estado, mostra que no ano passado R$ 69,4 milhões do Segundo Tempo foram parar nos caixas de entidades, enquanto em 2009 este montante foi de R$ 34 milhões.

O número de entidades beneficiadas também cresceu, subindo de 25 para 42 no ano das eleições presidencial e nos Estados.

A prática de aumentar recursos para ONGs em período eleitoral não aconteceu apenas no ano passado. Em 2008, ano em que foram eleitos prefeitos em todo o País, o ministério repassou via Segundo Tempo R$ 53,2 milhões, R$ 16 milhões a mais do que o aplicado em 2007.

O crescimento do montante em ano eleitoral acontece também no caso específico de uma das entidades sob suspeita. Dirigida pela ex-jogadora de basquete e vereadora de Jaguariúna (SP), Karina Rodrigues (PC do B), a ONG Bola Pra Frente seguiu a lógica de receber mais recursos em ano eleitoral.

Em 2010, a entidade da vereadora recebeu R$ 12,9 milhões do programa, enquanto em 2009 o caixa da ONG foi abastecido em apenas R$ 175 mil. O crescimento expressivo das receitas aconteceu também em 2008, na comparação com 2007. No ano das eleições municipais, a entidade recebeu R$ 6,8 milhões conta R$ 2,2 milhões no ano anterior.

Reportagem do Estado revelou que a ONG cobra uma taxa de intermediação dos prefeitos para levar o Segundo Tempo às cidades.

O padrão de desembolso atingiu outra entidade investigada pelo Estado. No Piauí, segundo o Portal da Transparência, do governo federal, a Federação das Associações dos Moradores do Piauí (Famepi) recebeu R$ 4,2 milhões, em 2010, nada em 2009 e R$ 1,3 milhão em 2007.

Silêncio. O Estado procurou o Ministério do Esporte na tarde de quarta-feira em busca de explicações sobre o aumento dos repasses em anos eleitorais. A assessoria de imprensa, porém, não respondeu aos questionamento até às 19h40 de ontem.

Em nota divulgada no início da semana, o ministério minimizou o repasse a entidades dizendo que só cerca de 15% dos convênios são firmados com organizações não governamentais. O levantamento no Siafi, porém, mostra que, em 2010, cerca de 30% dos recursos foram aplicados desta forma.

O líder do DEM, ACM Neto (BA), vê os números como uma ratificação do desvirtuamento do programa. "Isso é mais uma evidente confirmação do que vinha sendo denunciado, que é o uso político e eleitoral do programa e do Ministério do Esportes como um todo."

Ele afirma que o ministério tem de ser "responsabilizado" pelos problemas encontrados na aplicação dos recursos e defendeu a presença de Orlando Silva no Congresso. "Já se torna oportuna a convocação do ministro para que ele esclareça todas estas questões. Pedirei esta convocação na semana que vem."

O Segundo Tempo foi criado no começo do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O propósito é oferecer a crianças e jovens carentes oportunidade de prática esportiva após o turno escolar e nas férias. O ministério faz parcerias com entidades sem fins lucrativos, que assumem a tarefa de botar em prática o programa. Também são feitos convênios com prefeituras.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

O prisma do jornalista

Ao se matricular no curso de Jornalismo a maioria dos estudantes quando questionados o motivo de sua escolha afirmam terem optado pela carreira por gostarem de escrever, de ler, de actualidades, e outros, mais idealistas, por terem a oportunidade de denunciar o que está de errado na sociedade.

Após quatro anos, quando questionados novamente sobre a carreira de jornalismo, muitos deles perceberam que a realidade profissional é diferente daquilo que imaginavam ao colocarem os pés nas salas de aula. Alguns desses estudantes, principalmente aqueles que já tiveram alguma experiência profissional, já notaram que para exercer sua profissão, que é reodeada de romantismo, é necessário perder a ingenuidade e desenvolver astúcia e malícia.

Isso envolve uma série de fatores como relacionamentos com as fontes, ética profissional, sigilo de fontes, comprometimento com o jornalismo investigativo e linhas editoriais adotadas pelos meios de comunicação para os quais trabalham.

É também necessário serenidade e paciência na hora de apurar factos e ouvir o máximo de fontes diversificadas sobre uma mesma história. Muitas vezes, na ansiedade e ambição de conseguir um “furo de reportagem”, os jornalistas fazem denúncias sem provas, se escondem atrás de fontes anônimas e substituem os fatos e a argumentação por palavras e expressões de efeito.

Na hora de apurar denúncias é de extrema importância que esta mesma ansiedade e ambição não se sobreponham ao bom senso. Está claro que, além de informar a população sobre fatos do cotidiano, também é obrigação da imprensa levar a público as irregularidades e ilegalidades cometidas por governantes e funcionários públicos. Mas é preciso que as investigações sejam corretas e bem feitas, que as denúncias estejam fundamentadas. Notícia falsa é mentira e publicar mentira é um manipular o cidadão.

Outro conflito que pode vir a existir são as questões éticas. Antes de se empregar em uma empresa é aconselhável descobrir qual a linha editorial que esta mesma segue. Muitas vezes sua postura ética diante determinada situação não é a mesma da empresa, o que pode gerar uma série de conflitos. Por mais que preze-se que os meios de comunicação não tenham que ser nem contra nem a favor de governos e interesses pessoais e sim, a favor de seu leitor, tendências, parcialidades e negócios existem sim na mídia.

O grande desafio dos jornalistas é ser capaz de desenvolver um prisma que o torne capaz de perceber e se conscientizar de que a escolha de determinadas imagens, verbos, palavras e fontes assumem uma própria identidade capaz de formar e influenciar a opinião pública, sendo assim seu grande desafio desenvolver a consciência do poder da sua profissão na vida das pessoas e mesmo assim exercer sua profissão com ética, princípio e responsabilidade.