quinta-feira, 4 de outubro de 2007

O prisma do jornalista

Ao se matricular no curso de Jornalismo a maioria dos estudantes quando questionados o motivo de sua escolha afirmam terem optado pela carreira por gostarem de escrever, de ler, de actualidades, e outros, mais idealistas, por terem a oportunidade de denunciar o que está de errado na sociedade.

Após quatro anos, quando questionados novamente sobre a carreira de jornalismo, muitos deles perceberam que a realidade profissional é diferente daquilo que imaginavam ao colocarem os pés nas salas de aula. Alguns desses estudantes, principalmente aqueles que já tiveram alguma experiência profissional, já notaram que para exercer sua profissão, que é reodeada de romantismo, é necessário perder a ingenuidade e desenvolver astúcia e malícia.

Isso envolve uma série de fatores como relacionamentos com as fontes, ética profissional, sigilo de fontes, comprometimento com o jornalismo investigativo e linhas editoriais adotadas pelos meios de comunicação para os quais trabalham.

É também necessário serenidade e paciência na hora de apurar factos e ouvir o máximo de fontes diversificadas sobre uma mesma história. Muitas vezes, na ansiedade e ambição de conseguir um “furo de reportagem”, os jornalistas fazem denúncias sem provas, se escondem atrás de fontes anônimas e substituem os fatos e a argumentação por palavras e expressões de efeito.

Na hora de apurar denúncias é de extrema importância que esta mesma ansiedade e ambição não se sobreponham ao bom senso. Está claro que, além de informar a população sobre fatos do cotidiano, também é obrigação da imprensa levar a público as irregularidades e ilegalidades cometidas por governantes e funcionários públicos. Mas é preciso que as investigações sejam corretas e bem feitas, que as denúncias estejam fundamentadas. Notícia falsa é mentira e publicar mentira é um manipular o cidadão.

Outro conflito que pode vir a existir são as questões éticas. Antes de se empregar em uma empresa é aconselhável descobrir qual a linha editorial que esta mesma segue. Muitas vezes sua postura ética diante determinada situação não é a mesma da empresa, o que pode gerar uma série de conflitos. Por mais que preze-se que os meios de comunicação não tenham que ser nem contra nem a favor de governos e interesses pessoais e sim, a favor de seu leitor, tendências, parcialidades e negócios existem sim na mídia.

O grande desafio dos jornalistas é ser capaz de desenvolver um prisma que o torne capaz de perceber e se conscientizar de que a escolha de determinadas imagens, verbos, palavras e fontes assumem uma própria identidade capaz de formar e influenciar a opinião pública, sendo assim seu grande desafio desenvolver a consciência do poder da sua profissão na vida das pessoas e mesmo assim exercer sua profissão com ética, princípio e responsabilidade.